Magu Atala

18. Julho. 1965
São Paulo SP

Entrevista realizada em março/2017.
Revisada em maio/2018.

Paulistana, formada em comunicação pela ESPM, Magu, como prefere ser chamada, muda-se para a cidade de Salvador aos 28 anos. Pouco tempo depois, ela não só se insere no mercado de design soteropolitano, como transforma-o.

Após um breve período de adaptação na cidade, ocupando cargos em diferentes empresas e agências de publicidade, ela nota uma demanda latente pela existência de um escritório especializado em design gráfico em Salvador, e decide atendê-la. Surge, assim, a Pamdesign, um dos primeiros estúdios de design, da cidade, que revoluciona a concepção do que seria um projeto gráfico de qualidade na indústria criativa local.

Os rumos da carreira de Magu voltam a mudar, no entanto, quando decide ter filhos. Após dois anos lutando para conciliar a vida dupla de mãe e sócia do Pamdesign, ela decide abrir mão dessa empresa e fundar o Stúdio Augusta, que comanda da sua própria casa, onde se realiza, ao conseguir dividir essas duas jornadas.

Quais eram as suas ambições quando você começou a sua carreira e como isso foi se transformando com o passar do tempo?

Olha, além de gostar do trabalho e tudo, eu tinha uma ambição financeira. Eu queria que o meu negócio fosse financeiramente bom, porque eu acho que o financeiro acaba sendo, também, o reflexo de um reconhecimento do nosso trabalho e isso mudou completamente. Eu descobri que ninguém fica rico com design e mudei muito o meu olhar para as coisas, mas foi difícil, para mim, olhar para o meu trabalho e ver que ele não era tão reconhecido como outros. Eu percebi que é fácil para um cliente gastar 10 milhões fazendo uma loja, mas que ele vai ficar chorando pra mim porque não queria gastar nem 1.000 reais numa marca. As pessoas não tem ideia do trabalho que dá.

Quem são suas referências, quem te inspira?

Tem um trabalho, que eu adoro, de uma agência canadense, chamada Paprika. É um trabalho que eu sempre acompanho. Eu gosto muito dos japoneses, no geral, do design japonês. Acho que eles conseguem traduzir de uma maneira muito limpa as ideias complexas, então eu gosto muito dessa linha. Se você olhar meu portfólio, ele vai muito nessa linha, também, de um trabalho mais limpo, mais gráfico. Eu tenho até um pouco de dificuldade quando o trabalho demanda uma coisa mais “colorida”. Estou tentando trabalhar mais esse lado, mas eu admiro o algo que parece ser pouco, mas que na verdade não é. Então a Paprika é minha referência e alguns outros designers, também, mas quando eu vejo qualquer coisa de design japonês, oriental, eu me apaixono.

Você já sentiu algum desafio relacionado diretamente ao fato de você ser mulher, no seu trabalho?

Sim, bastante. Já tive clientes que quiseram passar do ponto, comigo. Eles achavam que, por verem nossa profissão de uma forma mais descontraída, sei lá, achavam que isso os autorizava a passar do ponto. Não cheguei a sofrer assédios horríveis não, mas tiveram alguns momentos em que eu tive que falar “Olha, parou aqui, não é por aí”. Mas eu não acho que seja um privilégio de designers.

Na verdade, parando para pensar, eu tive mais problemas com mulheres, do que com homens. Eu lembro que uma vez, eu tive que começar a levar o meu sócio para atender uma cliente. Por algum motivo, ela tinha um… me via como ameaça, não sei, isso só Freud vai explicar, mas quando ele apresentava o trabalho, ela aceitava tudo. Quando eu apresentava, ela sempre achava um motivo para me tratar mal, até chegar no ponto de eu desistir e dizer que não atenderia mais. Mas era, assim, no nível de ela pegar uma vírgula e começar a gritar, perguntar como é que eu estava apresentando um trabalho com uma vírgula errada, dizer que eu não era profissional, uma coisa terrível. Foi a pior experiência de trabalho que eu tive. Às vezes eu acho que as mulheres precisam ter mais cuidado com as outras, porque talvez ela tenha sofrido tanto na mão de homens, que quando ela vê uma outra mulher, ali, mais frágil, ou que ela considere em uma posição inferior, ela também quer assumir essa posição que humilha. Eu comecei a questionar isso, que não necessariamente era uma coisa pessoal, sabe?

Quando eu decidi me afastar da empresa para cuidar da minha filha, também, senti muito mais preconceito nas mulheres do que nos homens. Os homens conseguiram entender, talvez para eles aquilo fosse algo natural, mas as mulheres me acusavam: “Vai virar dondoca?”. Para mim foi muito duro de ouvir esse tipo de coisa. Clientes minhas falando isso e eu “Não, não vou virar dondoca” isso nunca passou pela minha cabeça, mas eu precisava daquele momento pra mim. Então as mulheres precisam também olhar pra isso e fazer uma autocrítica.

Qual o mundo ideal para se trabalhar com design gráfico, para você? O que você mudaria?

A primeira coisa é a remuneração. Eu não quero receber como um jogador de futebol, sabe? Mas eu gostaria de pensar que eu, enquanto mulher, designer e vivendo na Bahia, conseguiria me sustentar e sustentar minha família com o que eu ganho do design e isso não acontece. Se eu não tivesse o apoio do meu marido, eu não estaria sustentando minha família. Sem ele, talvez eu tivesse que mudar de profissão. Porque na Bahia, neste momento, eu não iria conseguir ter um padrão de vida considerado médio. Porque, claro, todo padrão de vida é uma ambição, mas eu não quero ser milionária e ir pra Europa quatro vezes no ano, eu quero viver, me sustentar, saber que eu tenho condições de ter um plano de saúde decente, que eu posso ter um carro e que eu possa viajar (porque essa é a coisa que eu mais gosto de fazer na vida). E se a minha profissão não me possibilita isso, isso me entristece muito.

O fato de a gente morar na Bahia agrava um pouco esse lado, porque eu trabalho um pouco em São Paulo e eu sinto a diferença. Não que o design lá esteja muito melhor, mas lá são as indústrias, né? As indústrias têm verbas interessantes para investir e isso remunera melhor o design. Aqui a gente vive muito do comércio, da moda, mas os centros da moda não estão aqui, os centros financeiros e os clientes que podem remunerar melhor não estão aqui. Então a gente tem que se virar com o pequeno comerciante, o pequeno empresário, ou o profissional liberal e não são pessoas que estão ganhando mundos e fundos.  

O mundo ideal, pra mim, será quando um empresário for pensar nos custos, nos investimentos dele, ele colocar o design como uma parte tão importante quanto a arquitetura, a decoração e os produtos que ele está vendendo. Porque, sem o design, tudo isso pode ficar em segundo plano, afinal quando um cliente entra em contato com uma empresa, a primeira coisa que ele vê, muitas vezes, é a marca. Seja num cartão de visita, seja numa fachada, numa sacola. Inclusive, eu tive experiências interessantes nesse sentido, de uma loja de roupas, por exemplo, mudar a embalagem para algo mais criativo e interessante e começar a vender mais. Isso valoriza o produto e muitas das grandes empresas já entenderam isso, mas os pequenos ainda estão no caminho.