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Heloísa Etelvina

10. Julho. 1981
Belo Horizonte MG

Entrevista realizada em março/2017.
Revisada em maio/2018.

Heloisa Etelvina Fonseca é formada em Belas Artes, na UFMG e se dedicava aos estudos em gravuras quando conheceu e se apaixonou pelos tipos em madeira. Desde que iniciou a sua coleção de tipos, clichês e ornamentos a designer e artista dedica boa parte do seu tempo livre a experimentações gráficas utilizando o seu prelo, de onde já saíram diversos impressos como pôsteres, estampas, experimentações de produções independentes e até mesmo uma coleção especial de selos para o INHOTIM.

A disponibilidade desses materiais garante a grande parte das suas produções uma identidade especial e única, que retoma o fazer manual e evita envolver o uso do computador em seu processo. O pensamento de que gambiarra diferencia, em certa medida, os trabalhos brasileiros e a crença na nossa capacidade de construir projetos incríveis, mesmo com o mínimo recurso disponível, aliás, levou Heloisa a inovar nas matrizes dos seus impressos, que vão desde a caixinha de fósforo ao papelão recortado. Essa essência se revela, também, quando a artista gráfica prefere iniciar um projeto de estamparia à mão, ilustrando e pintando no papel e incluindo softwares, como o photoshop, apenas nas etapas finais da produção.

Até que ponto você insiste nas suas ideias e não acata os pedidos do chefe ou do cliente?

Ah, quem vai trabalhar comigo já sabe que eu não vou obedecer ou eu vou obedecer, mas o trabalho não vai sair igual a referência. Não adianta ter muito objetivo comigo. Eu tento agradar, mudo várias vezes. Tem estampa que eu fiz sete vezes até o cliente gostar e paguei para trabalhar. Acontece.

Quais são suas principais referências, na prática ou na teoria do design?

Olha, na teoria tem o Paul Preciado e a Virginie Despentes. Saiu agora a Teoria do King Kong e ela está sendo a minha musa ultimamente. Me guiou muito na forma de pensar.

Na arte também tem várias mulheres. Tem artistas brasileiras que eu admiro demais tipo a Rivane Neuenschwander, tem a Kara Walker… nossa, tô falando aqui o que me vem na mente primeiro, tá? Tem vários artistas, se eu for fazer uma lista aqui eu vou até amanhã. Tem um cara que eu gosto, que é maravilhoso, de desenho, que é o William Kentridge. Ele, a Marlene Dumas, o Cildo Meireles… eu gosto muito de um trabalho político. Eu não consigo fazer um trabalho político, não tenho essa força, mas no meio da arte é o que me inspira mesmo.

Na área do design, pra mim, Tereza Bettinardi. Eu sou fã do trabalho dela e ela e a Elaine Ramos são, pra mim, as duas pessoas que quando eu penso em design e em Brasil, eu penso nelas.

O que você gostaria de mudar no cenário em que trabalha, do design e da arte? Qual seria a situação ideal pra você?

Nossa, situação ideal? Eu acho que a situação ideal pra todo mundo seria ter direitos iguais. Mas como não tem, a gente se vira. Risos.

No entanto, eu sinto que as coisas tão mudando e eu fico muito feliz com isso. Quando eu converso com outra geração, com as meninas de 25 (eu tenho 35), eu fico em choque. Fico muito feliz.

Se você pudesse mudar uma coisa no design gráfico, se você pudesse viver no mundo ideal, como ele seria?

A primeira coisa que eu pensei, foi numa ideia do Marck, da Nitrocorpz. Ele fala que se ele pudesse ele não daria aula para designers, ele daria aula sobre design, para pessoas de outras áreas. Eu acho que essa foi a grande sacada do milênio e isso mudaria grande parte do cenário e dos problemas que a gente tem. Mudaria o mundo e a forma das pessoas consumirem. Elas entenderiam a relação do valor, de como aquilo interfere nas suas vidas, na sua cultura e no que elas consomem.

Se a gente pudesse, de alguma forma, levar o design para as outras áreas, sair do nosso mundinho, da nossa bolha, eu acho que seria uma grande transformação, de pelo menos metade dos perrengues que a gente passa dentro da área. Então, se eu pudesse mudar algo, seria isso: levar o conhecimento do que a gente faz, do valor e da importância, não só como detalhe estético, mas como formador de cultura, como formador de repertório visual, para outras áreas.